sexta-feira, 13 de novembro de 2009

Memórias de Estudante


Introdução

A narrativa aqui descrita refere-se as minhas memórias de estudante.
O texto apresenta o decorrer da minha vida estudantil.
Com esta pequena obra espero estar colaborando com uma palavra de incentivo para todos aqueles que em suas trajetórias encontram dificuldades para seguir em frente, e remover obstáculos que encontram pelo caminho.
O conhecimento vale como instrumento insubstituível na luta pacífica da libertação pela educação. É o caminho para se chegar à cidadania.



Dedicatória
Pelo processo de nascimento desta narrativa, gostaria de agradecer ao corpo docente da Universidade Federal de Mato grosso e dedicá-la ao poderoso time de universitários que construiu uma grande aventura acadêmica.



Memórias de estudante

O sistema opressivo que imperava no país era criticado por grande parte da população, por isso o público passou a ter exacerbada preferência por músicas de protesto com conteúdo político, como “Caminhando”.
Deu-se então o movimento militar de 1964, que encerrou um período de liberdade política como nunca havia existido no Brasil. Nos anos que se seguiram, as liberdades públicas foram sendo eliminadas progressivamente até que, em dezembro de 1968, o Executivo decretou o AI-5 e passou a concentrar poderes excepcionais, transformando o regime político praticamente numa ditadura, cuja fase mais violenta e repressiva estendeu-se até 1974.
E assim nesse ambiente político conturbado minha alma se abriu e as coisas começaram a acontecer.
Lembro-me do primeiro dia de aula de minha irmã primogênita, nossa mãe guardando em sua mochila todo aquele material bonito e colorido. É comum o fato das crianças chorarem em seu primeiro dia de aula, mas chorar por não poder ir à escola?
Eu não podia sentir coisa alguma, porque chorei até ficar entorpecida. Meus pais assistindo meu desespero resolveram matricular-me em uma escola particular. AH! Minha alma se abriu por inteiro. Passei do choro ao riso. E ri pelo que me pareceu uma eternidade; o dia seguinte.
A sensação de alegria, confusão e revelações de um novo mundo começaram a crescer como uma bela semente em meu ser.


Muito embora eu não tenha me dado conta na ocasião, tive bastante sorte. Fui alfabetizada no Centro Educacional Tio Patinhas, escola renomada em minha cidade.
Conheci as primeiras letras e a indescritível alegria de saber ler aos seis anos de idade.
Estudava no período vespertino com a professora Nadir, que era maravilhosa!Acredito que grande parte do meu sucesso devo a esta querida mestra. Hoje como profissional, muito me espelho nessa grande educadora.
Mas retomando o meu cotidiano escolar, tenho a doce lembrança de chegar da escola, tomar banho e sentar-me à mesa de estudos que ficava no segundo andar de minha casa para fazer as tarefas. Meu pai cheio de orgulho gritava aos quatro ventos: “Essa filha vai longe! Será uma grande juíza!” Eu cá com meus botões pensava: “Pobre e equivocado pai... Eu vou ser professora!!!”.
Penso ser relevante citar a minha primeira leitura, “A ilha perdida”, vivia a me esconder pela casa para ter certeza de que não seria interrompida... E por meio dessa e muitas outras leituras...
Abriu-se a cortina das descobertas...
Meus olhos e todos os meus sentidos queriam cada vez mais...
Tecendo as descobertas dentro do meu próprio ser...
Reverenciei a vida

A semente instalada em mim inicia um processo de mutação

E o equilíbrio fez-se presente...



A sociedade brasileira sofre transformações com o término do mandato Geisel e a repressão diminui significativamente; as oposições políticas, o movimento estudantil e social começa a se reorganizar.
Em 1978, o presidente revoga o AI-5, restaura o habeas corpus e consegue impor a candidatura do general João Batista Figueiredo para a sucessão presidencial.
Em meio a esses acontecimentos significativos para a futura democracia no país, Continuei meus estudos na escola Estadual Cellan, onde terminei o ginásio (ensino fundamental) e ingressei no curso normal (segundo grau).
Acredito que essa fase do ginásio até o segundo grau, tenha sido a mais marcante de minha carreira estudantil.
Lembro-me que tinha acentuada dificuldade nas disciplinas de química e física; as mesmas eram ministradas pela professora Pituca, não recordo seu nome, talvez pelo fato da dita cuja, muitas vezes fazer chorar a mim e a grande parte dos meus colegas por suas atitudes grosseiras, incoerentes e maléficas.
Durante algum tempo, lembrei-me copiosamente do dia que minha turma resolveu dar uma pequena lição nessa professora que deixou cicatrizes irremovíveis em significativa parte de seus alunos.
Pegamos um gato morto e penduramos o pobre em uma árvore no pátio da escola, local este em que a nobre mestra estacionava seu carro. No pescoço do felino pregamos um bilhete que dizia: “A próxima vítima será você!” Dois alunos ficaram escondidos em meio à frondosa árvore, e assim que a nossa personagem principal estacionou o automóvel como fazia todos os dias; antes que saísse do veículo jogou-se o bicho, que bateu assustadoramente no pára-brisa do carro, quase matando de susto a emproada professora de química e física.
As conseqüências não foram lá muito agradáveis, mas ninguém se arrependeu.
Ainda fazendo o segundo ano normal, me apaixonei de modo avassalador. Casei-me e continuei os estudos. Engravidei prestando o último ano do magistério.
Após o nascimento de minha filha, interrompi meus estudos por três anos para dedicar-me exclusivamente a sua educação. Após esse espaço de tempo, prestei o vestibular para direito, isso para fazer a vontade de meu pai que me cobrava com insistência. Fui aprovada e iniciei a faculdade, sinceramente sem nenhum entusiasmo.
Certa de que não seria boa profissional, pois não era o que queria realmente, abandonei a faculdade no segundo semestre. Meu pai ficou um bom tempo sem falar comigo, mas hoje sabe que fiz a coisa certa para futuramente não acusá-lo de ser o culpado pelos meus dissabores na vida profissional.
Decidida teci meu destino...
Tornar-me educadora
Fazer parte da história
Plantar a semente, colher e distribuir o fruto.

Procurei e ainda procuro ser o berço;
Que acalenta e amadurece o fruto...
Fruto filho da terra, do criador...
A criatura humana.

A jornada é grande, com curvas tecidas em mistérios...
As revelações surgem paulatinamente...
O trabalho é árduo e acidentado, mas compensador.

A felicidade se faz presente a cada começo e cada término.
A mudança no ser toca-me a alma e um turbilhão de emoção
flui majestosamente...
O processo é copioso, mas a partilha é certa;
Assim como o recomeço...
Na década de 90 o Brasil vivencia problemas gravíssimos, o patrimônio público nacional era dilapidado e alienado aos interesses multinacionais em troca de nada para o povo brasileiro. O analfabetismo funcional cresceu assustadoramente, o fosso que separa ricos de pobres tornou-se acentuado e o nível de ensino caiu assustadoramente. Nunca antes na história pátria o desemprego esteve em proporções tão elevadas e o subemprego, com os direitos trabalhistas (quando respeitados) sendo questionados e sofrendo projetos de reversão monstruosos.
Meu marido foi uma vítima da problemática que assolava o país, ficou desempregado. Como meu pai havia comprado uma fazenda no estado do Mato Grosso, resolvemos deixar o Rio de Janeiro e recomeçar nossa vida em um novo estado.
Chegamos e logo nos apaixonamos por Primavera do Leste. Comecei logo de imediato a lecionar nas escolas estaduais Monteiro Lobato e Getúlio Vargas.
Retomei meus estudos cursando a faculdade de letras na UFMT. Foi uma fase muito proveitosa em minha vida.
Desenvolvi parte dos trabalhos da universidade com um grupo carinhosamente chamado de “As cinco”, Eu, Iva, Nina, Zilda e Lúcia. Nossos seminários e teatros eram sempre esperados com ansiedade por todo o corpo docente da universidade e éramos sempre aplaudidas de pé – nossa!!!! Agora bateu saudade...
Foi uma grande batalha; jornada tripla, cuidar da família, trabalhar e estudar. Mas acredito sinceramente que meu crescimento como ser humano tenha se alicerçado nessa fase da minha vida.
Por isso acredito que o caminho da educação, do conhecimento, opera lentamente de modo evolucionário, não cria utopias nem oferece remédio mágico. Exige esforço, empenho e disciplina. Desperta o ser humano para as suas potencialidades e o transforma. É o instrumento mais coerente e potente que o homem possui.
Após terminar o curso de Letras e Literatura na UFMT, continuei a lecionar a disciplina de língua portuguesa.
Ministro minhas aulas usando a metodologia que envolve projetos, amor à profissão e certa habilidade pessoal. Como exemplo menciono a produção de quatro filmes que produzi com meus alunos: “O valor da instrução, O outro lado da vida, Páscoa e Acqua (este com trilha sonora produzida pelos alunos).
Acredito que o ato de saber numa visão de ensino sistemático, o qual minha geração foi submetida, por meios de critérios que enfocavam a memorização como aprendizagem alcançada, era logicamente um saber sem nenhum sabor e era levado ao esquecimento e a frustração. Por isso busco continuamente formas e métodos na construção e no aprimoramento das técnicas de aprendizagem.

Alguns meses depois do término da faculdade ingressei no curso de pós-graduação em gestão escolar para assim, abarcar maior conhecimento referente à instituição que trabalho.
Hoje estou eu novamente fazendo parte dessa grande e importante massa estudantil. Participando do Gestar:
Uma aventura no ensino da língua
Na trajetória de nossas vidas,
desejamos que muitos sonhos se realizem
nos lançar-mos à luta é necessário.
A oportunidade surge...

Sou amadurecida e tenho a leitura da vida
O desafio começa agora...
Ser professor é firmar um pacto com a construção,
Desafiar o distanciamento, quebrar o medo do novo,
Utilizar a tecnologia, ser estudante.
O conhecimento é o pão do espírito,
O encontro do caminho, a visão da vida sem névoa...
A participação ativa; trilha para descobertas, aventuras e desafios.
Curso Gestar; planta, aduba e constrói o conhecimento...

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